Canção à Ausente
Para te amar ensaiei os meus lábios...
Deixei de pronunciar palavras duras.
Para te amar ensaiei os meus lábios!
Para tocar-te ensaiei os meus dedos...
Banhei-os na água límpida das fontes.
Para tocar-te ensaiei os meus dedos!
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
Pus-me a escutar as vozes do silêncio...
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
E a vida foi passando, foi passando...
E, à força de esperar a tua vinda,
De cada braço fiz mudo cipreste.
A vida foi passando, foi passando...
E nunca mais vieste!
Pedro Homem de Mello, in "Segredo"
Remos partidos...
Na crista das ondas, voguei
Na barca da minha vida...
Tinha largos horizontes,
Mesmo de esperança perdida....
Depois, a brisa soprava....
E a barca, lenta, seguia....
Vagarosa navegava,
E incerta, lá ia, lá ia,
E nas ondas balançava...
Mesmo de remos partidos,
Ao sabor do mar corria...
E assim, lá foi seguindo,
E os anos foram passando....
Noites de luar sorrindo,
Noites de Inverno chorando!...
E a barca da vida lá ia,
Lentamente navegando...
Quebrado o leme, rota a vela,
Remos partidos.....lá ia ela,
Baloiçando, baloiçando,
Levando a minha alegria!
Vida sem norte e sem rumo!
Sem forças para navegar,
Trago meus remos partidos,
Ando à deriva no mar,
Num mar de sonhos perdidos
Que jamais pude encontrar!...
Trago meus remos partidos,
E mais não posso avançar.
E por isso ando cantando,
Com vontade de chorar!
Remos partidos
São meus poemas....
Poemas caídos,
Na crista das vagas,
Vogando sozinhos,
Perdidos no mar!....
J.M. Lopes de Araújo
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Canção à Ausente ...
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